quinta-feira, 17 de agosto de 2017

O Marxismo e sua influência na historiografia Brasileira.



       Um conceito central para entendermos o pensamento do Marx , é entendermos a concepção dele de homem,  Marx nos diz que o homem é o animal que transforma a natureza através do trabalho. Dito isso, temos dois conceitos centrais da obra dele: Forças Produtivas e Relações de Produção.
       Forças Produtivas: São as fontes de energia (madeira, carvão,petróleo), matérias-primas (algodão, borracha, petróleo,ferro), máquinas (moinho de vento, maquina a vapor) , o trabalho (a força de trabalho) e o conhecimento( técnicos e científicos).
       Relações de Produção: São as relações sociais que o indivíduos estabelecem entre si, para produzir  e distribuir a produção de bens e serviços.
      Quando temos a união entre Relação de Produção com a Força Produtiva teremos a Infraestrutura Econômica.
      O que fundamenta uma sociedade é a forma como as pessoas produzem, consomem e distribuem, gerando a divisão de classes e a forma como essa sociedade é construída. Então essa superestrutura política/jurídica vai abranger as instituições jurídicas e instituições políticas (sindicatos, partidos políticos) e formas de Estado (fascista,democráticos, absolutista, autoritários).
      Em cada Superestrutura Jurídica vai existir uma consciência social ( expressões literárias, artísticas, musicais, religiosas) correspondente.  Desta forma, cria-se a  Ideologia que seria as expressões de uma determinada classe social hegemônica, dado como algo natural.
      A cada Superestrutura vai surgir uma consciência social correspondente, como por exemplo tipicamente da sociedade burguesa (musica clássica, jazz, filosofia pragmática, religiões atreladas ao individualismo e ao  mercado). A cada superestrutura vai surgir uma consciência social.
      Para entendermos a sociedade segundo o marxismo ortodoxo podemos explicar esta de duas maneiras:  Primeiro, dentro de uma lógica mais bipolar,  a estrutura econômica de um lado e superestrutura jurídico política e a consciência cultural do outro, sendo que a sociedade é construída no meio delas. Segundo, dentro de uma lógica mais sofisticada o marxismo é trabalhado em “andares”,ou seja, um em cima do outro, temos na base as atividades econômicas / força produtivas, depois, as relações de produção as relações sociais, acima temos as relações superestrutura  jurídica/ política, e no fim consciência social, como se fosse camadas sobrepostas.
      É importante entendermos sobre a ortodoxia marxista é que ela é de alguma maneira  economicista, ou seja, a base econômica determina a superestrutura.  As relações econômicas determinam o restantes das outras relações dentro do pensamento marxista ortodoxo.
       Seguindo em frente, vemos que o modo de produção para Karl Marx, seria um sistema com três elementos básicos:
       Primeiro: o trabalhador que dispõe da sua força de trabalho;
       Segundo: os meios de produção, combinação das forças produtivas e as relações de produção
       Terceiro: o não trabalhador, dono do capital ou dos meios de produção que se apropria do sobre-trabalho do trabalhador (que vai dar origem a mais-valia)
       O modo de produção antigo era a escravatura, o modo de produção feudal eram os vassalos , o modo de produção capitalista empregados. Existe outro modo de produção segundo Marx, era chamado modo de produção asiático ou hidráulico, que é o modo de produção mediado pelo Estado (China antiga, Egito, Impérios Incas, Astecas e Maia) que é o grande mediador e vai distribuir tudo aquilo que é  produzido pelos indivíduos.
       É importante não confundir o modo de produção (modelo explicativo), com formação social. Modo de produção é um conceito, não é a realidade. Ex: modo de produção feudal se tem realidades completamente distintas, tanto espacial como temporal.
       Trazendo esses conceitos para a historiografia vemos que o Marxismo é o modelo estrutural para se entender a mudança, enquanto os Annales é o modelo estrutural para se entender  a permanência (eles estudam a longa duração,  estudam o que permanece dentro de uma determinada sociedade.)
       Cada modo de produção tem uma classe dominante e pelo menos uma classe dominada, dessa forma temos a luta de classes, que é o motor da historia. A classe oprimida vai ter  em certo momento a consciência de classe, onde  vai haver lutas através de greves, manifestações, revoltas, através dos sindicatos e associações contra essa dominação de classes, se ela for bem sucedida instituíra uma revolução.
        A noção de Estado para Marx é  que este seria o comitê central da burguesia, isso dentro do capitalismo, que se utiliza do aparato coercitivo para fazer que seus interesses  políticos e econômicos sejam bem sucedidos.
        Marx vai ser o primeiro intelectual a tentar entender  as causas das mudanças históricas numa perspectiva mais científica através de conceitos, analisando não os fatos, mas sim a estrutura.
        O objetivo da história para Marx é analisar a relação estabelecida entre as  forças produtivas e as relações de produção. Esse é o objetivo do historiador, entendendo isso ele vai conseguir observar como funciona uma sociedade. A realidade para ele é apenas aprendida através de conceitos.
      Podemos dividir o marxismo em dois: O marxismo acadêmico, metodológico e conceitual. Segundo o marxismo como agenda político doutrinaria. Para Hegel o fim da historia é o Estado, para Marx o fim da historia é o comunismo.
      Thompson é  o grande modelo marxista que vai imperar na historiografia acadêmica brasileira , a partir dos anos 80, quando se tem uma profissionalização da história no Brasil, devido a expansão dos cursos de pós-graduação.  Thompson tem um modelo um pouco  diferente do Marx, ele tenta negar a relação mecânica entre base e superestrutura, os marxistas ao longo do século XX,  vão observar que esse modelo é mecânico, a realidade é um pouco mais complexa. Para tentar entender a ação do sujeito dentro da historia, Thompson vai definir experiência como experiência de classe. Ele vai contribuir para um campo historiográfico que conhecemos como a história vista de baixo, através da visão dos trabalhadores e não dos líderes.
             
                 O Marxismo na Historiografia Brasileira

       O marxismo se consolida no Brasil a partir de 1922, com o surgimento do Partido Comunista Brasileiro. Do ponto de vista historiográfico o marxismo sem o aspecto de militância, vai ter o primeiro trabalho produzido no Brasil através do Caio Prado Junior, através da obra: A evolução Política, 1933, A formação do Brasil Contemporâneo (1942) e  A historia Econômica do Brasil. Caio Prado  publica essas três obras de 33 à 45, esses livros vão consolidar o marxismo dentro do pensamento acadêmico e vão influenciar a historiografia brasileira até os anos 70, sobretudo em São Paulo na USP.
       O primeiro tema que o marxismo vai abordar no Brasil é tentar analisar o papel subordinado do Brasil enquanto nação dentro cenário internacional.
        O segundo tema foi saber se o Brasil tinha um modo de produção próprio, ou se era um modo de produção dependente derivado de um modo de produção mais amplo.    
        O terceiro tema importante que vai surgir por volta dos anos 60 é para analisar a subordinação econômica brasileira no cenário internacional e do desenvolvimento de uma industrialização tardia, relacionada com o café a elite agroexportadora.
         O quarto tema relevante foi que vários autores começam a discutir como será a revolução brasileira, que tipo de revolução vai acontecer no Brasil.     
         Início dos anos 60  e 70 começam a estudar a classe operária brasileira, vão surgir os conceitos de populismo da classe operária com o Estado, o conceito de trabalhismo e todos aqueles elementos que vão  caracterizar os governos nacionais estadistas sobre tudo o governo de Getúlio Vargas. E nos anos  70 , 80 e 90 teve as principais contribuições do marxismo que foi estudar os mundos do trabalho, desde a formação da classe operária até o escravismo. Lembrando que o marxismo foi a principal vertente interpretativa  no Brasil entre os anos 1930 e 1980.
           
Por: S. Silva

terça-feira, 1 de agosto de 2017

Micro-História (resumo)

Micro-História
   
         Micro-História é uma corrente historiográfica e não uma escola.
Não é a nova história cultural francesa, apesar de terem objetos semelhantes. Cada micro historiador vai ter influências próprias, ela surge basicamente nos anos 70, com Eduardo Grendi.
        O marxismo é relevante dentro da micro-história, sobretudo a perspectiva gramsciana e através do historiador Giovanni Levi.
        A micro-história não é  análise local, regional ou circunscrita. Ela é uma redução da escala de observação, mas o objeto de análise só faz sentido de alguma maneira se ele exemplificar conceitos gerais.  Por exemplo: ''O Queijo E Os Vermes'' (Carlo Ginzburg). O recorte é circunscrito, mas as questões são gerais.
        Ela surge como oposição ao modelo Brodeliano de história, que era o modelo "macro" de se fazer história estudando a longa duração, o que se permanecia dentro da sociedade.
        A micro-história possui três paradigmas. Primeiro: A redução de escala como paradigma epistemológico, ou seja, o geral só pode ser estudado a partir do particular, somente reduzindo a escala de observação que se consegue entender o que é de mais profundo em uma sociedade e como esse "objeto" geral é vivido. Segundo: A análise é intensiva e exaustiva das fontes. Terceiro:  é a análise indiciária, são através dos indícios que se tenta entender como o grupo age.   
        Portanto, a principal característica da micro-história é analisar o objeto através de uma escala reduzida, por exemplo: Analisar um soldado no front de batalha e não todo o batalhão espalhado no campo de operações, isto é, estudando assim o micro (um soldado) para se entender o macro (o conflito). O historiador diminui o recorte para se entender melhor como funcionava o geral.
          Observação importante: Estudo de casos são exemplos, ele é usado de forma ilustrativa, algo muito diferente de micro-história


 Por: S.Silva