Americanah (Chimamanda Ngozi Adichie)
O livro “Americanah” da escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, origina-se de uma história de amor, porém com o foco direcionado para discussão de assuntos atuais, como a desigualdade de gênero, preconceito racial e imigração. A história é dividida entre duas personagens principais, que dominam a narrativa, sendo estas o casal Ifemelu e Obinze, com grande ênfase para a personagem feminina, que têm sua infância na Nigéria e depois de alguns anos volta adulta dos Estados Unidos para sua terranatal, trazendo em sua bagagem a experiência de amores, empregos, hibridismo e preconceito racial.
Americanah possui elementos que trazem recordações da
vida da autora, ao mesmo tempo que faz uma discussão com temas
universais como os citados no parágrafo anterior. A autora mostra a
experiência desse “ser” negro no mundo presente, porém é
importante lembramos que o espaço de fala do africano não deve
restringir-se a falar apenas sobre África. O lugar social de
pensadores africanos não pode ser apenas o lugar de fala sobre seu
próprio continente, isto é, africano fala sobre África, europeu
fala sobre tudo. Esse lugar é importante ser ocupado pelo africano,
mas é preciso um novo momento. O negro falar sobre tudo e em todos
espaços a partir de sua perspectiva histórica, filosófica e
epistemológica.
Chimamanda
que é uma nigeriana, acaba não identificando-se com a negritude
americana, pois de fato, não é a identidade dela. Indício que
observamos quando ela escreve que entre Hillary Clinton e Barack
Obama, ela se identificava mais com a Hillary, devido ao fato da
primeira ser mulher. Em conclusão notamos que a negritude do Barack
Obama não correspondia em grande parte com a identidade da
escritora. A autora não consegue identificar o presidente Barack
Obama como representante do movimento negro e de fato, muitos
ativistas têm essa mesma opinião. Ela faz uma crítica
relevante sobre o ex-presidente, afirmando que a aceitação que o
Obama obteve tanto dentro da comunidade negra, quanto na comunidade
branca, não foi por ele se comportar como um porta-voz das pautas
dos movimentos negros, e sim por se comportar como o “amigo negro”
dos filmes americanos. Aquele negro que vem para ajudar o branco.
Ao
pensarmos sobre identidade híbrida, enxergamos que a partir do
processo da diáspora, homens e mulheres sempre terão esse tipo de
identidade. Todo o processo colonial/diáspora criou como resultado
(sobretudo no continente americano), sociedades de culturas híbridas
que viviam uma reconstrução em tal grau para brancos e negros. Dito
isso, não cabe mais os conceitos de pureza ou de algo que seja
originário e inalterado.
Quando
só fazemos elogios à obra da escritora Shimamanda, deixando de lado
a crítica construtiva, acaba sendo também uma forma de não
enfrentamento. Regularmente fazemos isso para evitar os rótulos de
machista e racista. Ela é pouco solidária com as questões dos
negros afro-americanos, recusando-se a se identificar com eles, a
autora vive o padrão do cânone branco em algumas partes da sua obra
e acaba sendo impactada de certa forma pelo olhar do colonizador.
Shimamanda se sente refratária as relações de discriminação
dentro da sociedade estadunidense. Fato relevante é quando a
escritora fala sobre depressão em sua obra, ela afirma que depressão
é coisa de americano, nada mais que o produto dessa vida, nesse tipo
de sociedade.
Sobre
a volta da escritora para o país de origem ela sente um certo
estranhamento, ela enxerga as ruas bagunçadas, os prédios feios etc...
Isso se deve por ela possuir um olhar que comporta outro tipo de referência
do mundo estadunidense, que mostra um pouco do processo de hibridação
cultural, isto é, ela já possui outros tipos de referências que
não são mais apenas os quais ela tinha quando morava na Nigéria. Shimamanda diz que
virou negra após sair da Nigéria, pois lá ela era “apenas”
mulher e no Estados Unidos ela virou uma mulher negra. Uma das
frentes de combate do afrofuturismo é desconstruir essa visão e
tentar reconstruir o discurso sobre o negro apenas como pessoa.
Por
mais que a nossa sociedade seja visual e impactada pelo cinema e
televisão, as representações primárias que nós temos sobre o
outro e sobre nós, vem da literatura, das diferentes narrativas
sobre si e sobre o outro. Muito do que nós temos sobre a
representação do outro, tem origem na literatura. As vezes
esquecemos o poder da literatura na construção das representações.
Dito isso, a literatura é um instrumento necessário para que nós
possamos enfrentar o problema racial que
deve ser enfrentado, pois se não enfrentarmos, ele não irá
desaparecer sozinho.
Uma
das questões que a escritora Chimamanda coloca em seu livro é a
postura de algumas pessoas em que tentam fazer de conta que o
problema não existe, que a questão da cor da pele não é a mais
importante, não é a que está em pauta, que alguns desregramentos
que acontecem não é por conta do fenótipo. Adotando essa postura,
tentamos assim não enfrentar o problema, mas ele existe e temos que
confrontá-lo, seja na literatura, no cinema, na academia ou na roda
de amigos.
Por: S. Silva
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