
Um conceito central para entendermos o pensamento do Marx , é entendermos a concepção dele de homem, Marx nos diz que o homem é o animal que transforma a natureza através do trabalho. Dito isso, temos dois conceitos centrais da obra dele:
Forças Produtivas e Relações de Produção. Forças Produtivas: São as fontes de energia (madeira, carvão,petróleo), matérias-primas (algodão, borracha, petróleo,ferro), máquinas (moinho de vento, maquina a vapor) , o trabalho (a força de trabalho) e o conhecimento( técnicos e científicos).
Relações de Produção: São as relações sociais que o indivíduos estabelecem entre si, para produzir e distribuir a produção de bens e serviços.
Quando temos a união entre
Relação de Produção com a
Força Produtiva teremos a
Infraestrutura Econômica. O que fundamenta uma sociedade é a forma como as pessoas produzem, consomem e distribuem, gerando a divisão de classes e a forma como essa sociedade é construída. Então essa
superestrutura política/jurídica vai abranger as instituições jurídicas e instituições políticas (sindicatos, partidos políticos) e formas de Estado (fascista,democráticos, absolutista, autoritários).
Em cada
Superestrutura Jurídica vai existir uma
consciência social ( expressões literárias, artísticas, musicais, religiosas) correspondente. Desta forma, cria-se a
Ideologia que seria as expressões de uma determinada classe social hegemônica, dado como algo natural.
A cada Superestrutura vai surgir uma consciência social correspondente, como por exemplo tipicamente da sociedade burguesa (musica clássica, jazz, filosofia pragmática, religiões atreladas ao individualismo e ao mercado). A cada superestrutura vai surgir uma consciência social.
Para entendermos a sociedade
segundo o marxismo ortodoxo podemos explicar esta de duas maneiras: Primeiro, dentro de uma lógica mais bipolar, a estrutura econômica de um lado e superestrutura jurídico política e a consciência cultural do outro, sendo que a sociedade é construída no meio delas. Segundo, dentro de uma lógica mais sofisticada o marxismo é trabalhado em “andares”,ou seja, um em cima do outro, temos na base as atividades econômicas / força produtivas, depois, as relações de produção as relações sociais, acima temos as relações superestrutura jurídica/ política, e no fim consciência social, como se fosse camadas sobrepostas.
É importante entendermos sobre a ortodoxia marxista é que ela é de alguma maneira economicista, ou seja, a base econômica determina a superestrutura. As relações econômicas determinam o restantes das outras relações dentro do pensamento marxista ortodoxo.
Seguindo em frente, vemos que o modo de produção para Karl Marx, seria um sistema com três elementos básicos:
Primeiro: o trabalhador que dispõe da sua força de trabalho;
Segundo: os meios de produção, combinação das forças produtivas e as relações de produção
Terceiro: o não trabalhador, dono do capital ou dos meios de produção que se apropria do sobre-trabalho do trabalhador (que vai dar origem a mais-valia)
O modo de produção antigo era a escravatura, o modo de produção feudal eram os vassalos , o modo de produção capitalista empregados. Existe outro modo de produção segundo Marx, era chamado modo de produção asiático ou hidráulico, que é o modo de produção mediado pelo Estado (China antiga, Egito, Impérios Incas, Astecas e Maia) que é o grande mediador e vai distribuir tudo aquilo que é produzido pelos indivíduos.
É importante não confundir o modo de produção (modelo explicativo), com formação social.
Modo de produção é um conceito, não é a realidade. Ex: modo de produção feudal se tem realidades completamente distintas, tanto espacial como temporal.
Trazendo esses conceitos para a historiografia vemos que o Marxismo é o modelo estrutural para se entender a mudança, enquanto os Annales é o modelo estrutural para se entender a permanência (eles estudam a longa duração, estudam o que permanece dentro de uma determinada sociedade.)
Cada modo de produção tem uma classe dominante e pelo menos uma classe dominada, dessa forma temos a luta de classes, que é o motor da historia. A classe oprimida vai ter em certo momento a consciência de classe, onde vai haver lutas através de greves, manifestações, revoltas, através dos sindicatos e associações contra essa dominação de classes, se ela for bem sucedida instituíra uma revolução.
A noção de Estado para Marx é que este seria o comitê central da burguesia, isso dentro do capitalismo, que se utiliza do aparato coercitivo para fazer que seus interesses políticos e econômicos sejam bem sucedidos.
Marx vai ser o primeiro intelectual a tentar entender as causas das mudanças históricas numa perspectiva mais científica através de conceitos, analisando não os fatos, mas sim a estrutura.
O objetivo da história para Marx é analisar a relação estabelecida entre as forças produtivas e as relações de produção. Esse é o objetivo do historiador, entendendo isso ele vai conseguir observar como funciona uma sociedade. A realidade para ele é apenas aprendida através de conceitos.
Podemos dividir o marxismo em dois: O marxismo acadêmico, metodológico e conceitual. Segundo o marxismo como agenda político doutrinaria. Para Hegel o fim da historia é o Estado, para Marx o fim da historia é o comunismo.
Thompson é o grande modelo marxista que vai imperar na historiografia acadêmica brasileira , a partir dos anos 80, quando se tem uma profissionalização da história no Brasil, devido a expansão dos cursos de pós-graduação. Thompson tem um modelo um pouco diferente do Marx, ele tenta negar a relação mecânica entre base e superestrutura, os marxistas ao longo do século XX, vão observar que esse modelo é mecânico, a realidade é um pouco mais complexa. Para tentar entender a ação do sujeito dentro da historia, Thompson vai definir experiência como experiência de classe. Ele vai contribuir para um campo historiográfico que conhecemos como a história vista de baixo, através da visão dos trabalhadores e não dos líderes.
O Marxismo na Historiografia Brasileira
O marxismo se consolida no Brasil a partir de 1922, com o surgimento do Partido Comunista Brasileiro. Do ponto de vista historiográfico o marxismo sem o aspecto de militância, vai ter o primeiro trabalho produzido no Brasil através do Caio Prado Junior, através da obra: A evolução Política, 1933, A formação do Brasil Contemporâneo (1942) e A historia Econômica do Brasil. Caio Prado publica essas três obras de 33 à 45, esses livros vão consolidar o marxismo dentro do pensamento acadêmico e vão influenciar a historiografia brasileira até os anos 70, sobretudo em São Paulo na USP.
O
primeiro tema que o marxismo vai abordar no Brasil é tentar analisar o papel subordinado do Brasil enquanto nação dentro cenário internacional.
O
segundo tema foi saber se o Brasil tinha um modo de produção próprio, ou se era um modo de produção dependente derivado de um modo de produção mais amplo.
O
terceiro tema importante que vai surgir por volta dos anos 60 é para analisar a subordinação econômica brasileira no cenário internacional e do desenvolvimento de uma industrialização tardia, relacionada com o café a elite agroexportadora.
O
quarto tema relevante foi que vários autores começam a discutir como será a revolução brasileira, que tipo de revolução vai acontecer no Brasil.
Início dos anos 60 e 70 começam a estudar a classe operária brasileira, vão surgir os conceitos de populismo da classe operária com o Estado, o conceito de trabalhismo e todos aqueles elementos que vão caracterizar os governos nacionais estadistas sobre tudo o governo de Getúlio Vargas. E nos anos 70 , 80 e 90 teve as principais contribuições do marxismo que foi estudar os mundos do trabalho, desde a formação da classe operária até o escravismo. Lembrando que o marxismo foi a principal vertente interpretativa no Brasil entre os anos 1930 e 1980.
Por: S. Silva